O HUNSRÜCK DE NOSSOS ANTEPASSADOS*
Nossos antepassados alemães vieram da região de Hunsrück, na Alemanha.
"Reckershausen é uma pequena comunidade, cujo registro histórico mais antigo data do ano 1072. As atividades principais no século XIX eram a agricultura, a criação de animais domésticos (bois e vacas, cavalos, cabras e ovelhas, porcos, gansos, que eram todos apascentados na floresta pelo pastor contratado pela comunidade) e um pouco de mineração. Em paralelo, a maioria exercia ainda um ofício, tais como alfaiate, sapateiro, tecelão, ferreiro, carpinteiro, construtor de carroças, peneireiro. No final de 2009 Reckershausen contava 381 habitantes e faz parte da municipalidade de Kirchberg.
Reich é uma comunidade localizada em uma depressão no vale do rio Bieber e é mencionada por volta do ano 1600. Em junho de 2010 contava 387 habitantes.
Biebern, já mencionada no ano 754, realizou em 2004 as comemorações dos seus 1250 anos. No final de 2009 contava 313 habitantes.
Reich e Biebern integram a municipalidade de Simmern (Siméria). A distância é de 3-4 km entre estes povoados e de aprox. 15 km até Buch, na municipalidade de Kastellaun (Castelânea). O registro mais antigo mencionando Buch data do ano 1052, e até a anexação francesa fazia parte do Principado-Arcebispado de Trier. No final de 2009 contava 928 habitantes.
Durante séculos os moradores de Reckershausen, Reich e Biebern eram servos do Mosteiro de Ravengiersburg, cujos priores eram juízes e proprietários de vasta extensão de terras até 1566, quando as terras e os servos passaram para os duques de Simmern e a partir de 1673 para os duques do Palatinado. Reckershausen, que também tinha súditos dos condes de Sponheim, em 1707 se tornou território do Marquesado de Baden. As áreas adjacentes do Hunsrück pertenciam a vários pequenos condados e ao Principado-Arcebispado de Trier, o arcebispo acumulando o poder religioso e temporal. Por séculos, a região foi disputada pela França, sendo várias vezes invadida, cidades e povoados saqueados e incendiados. Mesmo quando a própria região não era o palco das guerras, ainda assim era área de passagem para milhares de soldados e quem sofria as conseqüências desastrosas era a população. Na segunda metade do século XVIII o Hunsrück conheceu um breve período de prosperidade com o surgimento das primeiras indústrias ligadas à mineração, fundição e fabricação de utensílios domésticos, ferramentas, rocas, teares, pesos para balanças e similares. Até ser invadido pelas tropas revolucionárias de Napoleão em 1792 e posteriormente toda a área à esquerda do rio Reno foi anexada à França.
As repetidas guerras e invasões francesas devem ter sido experiências muito traumáticas, marcando profundamente o inconsciente desta população. Cento e cinquenta anos depois, do outro lado do Atlântico, os seus descendentes ainda pelejavam para se livrar dos “Franzose”, no caso a buva, uma planta selvagem, grande e vistosa, que insistia em reaparecer no meio das plantações. Pelo menos, é o que eu imagino agora ao conhecer a história e lembrar da minha infância na roça. Na época eu não sabia que Franzose significava francês, mas hoje, com alguma imaginação, posso ouvir o comentário dos imigrantes no dialeto do Hunsrück: “Krót so wie die Françose; dat kannste rúich áushacke, dat kimmt ávver doch nommo”. Em português seria: “Igualzinho aos franceses; você pode arrancar, mas eles sempre voltam”.
Importante ressaltar que a Alemanha como um país, uma unidade nacional, ainda não existia. Nesta época, o território da futura Alemanha era mais semelhante a uma colcha de retalhos de cerca de 200 reinos, principados, ducados, condados, principados-bispados, cidades livres e outros pequenos domínios de nobres e clérigos, todos soberanos e independentes entre si, que após a ocupação francesa seriam reduzidos a 37 territórios, ainda independentes. O elo comum e fator de identidade alemã era a língua materna. Enquanto falavam muitos dialetos diferentes conforme as regiões, o idioma escrito e oficial era o alemão, para o qual Lutero havia traduzido a Bíblia.
Derrotadas as tropas de Napoleão, a partir de 1815 o Hunsrück passou a integrar a Província Renana do reino da Prússia e depois, em 1871, do Império Alemão, agora unificado e consolidado como uma nação. Desde 1946, o Hunsrück faz parte do estado de Rheinland-Pfalz (Renânia-Palatinado), no sudoeste da Alemanha.
A ocupação e posterior anexação francesa significou um pesado ônus, monetário e em vidas humanas: pesados tributos para financiar as guerras de Napoleão e o serviço militar obrigatório, com o recrutamento universal entre 18 e 40 anos para lutar nas suas guerras. Os que desertavam eram impiedosamente perseguidos e punidos. Para controlar quando os jovens estariam em idade de prestar o serviço militar, os franceses haviam confiscado os livros eclesiásticos (os registros civis só foram introduzidos pelos franceses em 1798). Com este mesmo objetivo, os prefeitos locais também eram obrigados a apresentar relatórios listando todas as famílias, indicando nome, idade e profissão de todas as pessoas adultas e todas as crianças acima de doze anos. Para evitar o recrutamento, nessa época muitos homens se casaram bem jovens, pois os casados não eram mais recrutados. Isso requeria uma licença especial e as solicitações eram minuciosamente examinadas. É bastante provável que Johann Adam Brand, o pai de nossos irmãos imigrantes, tenha conseguido essa licença, pois mal tinha 17 anos quando se casou com Anna Catharina Kunz em 1803. Certamente com o argumento de que sua mãe já era idosa (tinha mais de 60 anos), talvez também doente, e por isso havia a necessidade premente de uma mulher para cuidar da casa. Após cuidadosa verificação dos fatos, esse era o típico caso que justificava uma exceção e autorizava uma dispensa do serviço militar.
Como agora viviam em território francês e eram súditos franceses, tiveram de adotar a moeda francesa e o idioma oficial era o francês, que quase ninguém entendia, falava ou sabia escrever. As festas religiosas foram substituídas pelas festas revolucionárias da república francesa. Mas a maior confusão e rejeição era causada pelo calendário da revolução francesa, com a semana de 10 dias, com novos nomes de meses para cada estação do ano que iniciava em 22 de setembro, aniversário da república francesa.
Entretanto, o período francês também havia introduzido significativas mudanças sociais na esteira dos valores de liberdade, igualdade e fraternidade da Revolução Francesa, que a Prússia depois não conseguiria revogar na sua Província Renana. O Código Civil, que Napoleão implantou também na Renânia, abolia os privilégios de classes e tornava todos os homens (sic) iguais perante a lei (literalmente os homens, pois as mulheres ainda permaneciam excluídas destes direitos e continuavam meros apêndices dos homens). Supressão do sistema feudal e eliminação da servidão, passando de relações feudais entre senhor e servo para relações contratuais entre iguais; confisco de grandes propriedades agrárias, leiloadas em lotes menores, permitindo aos camponeses a propriedade de seu próprio pequeno pedaço de terra; sistema judiciário independente, sendo todos iguais perante a lei; liberdade de culto e de profissão; direito universal (sic) de votar (para os homens maiores de idade) são algumas destas conquistas.
Napoleão também impôs a vacinação de toda a população contra a varíola, o que diminuiu a mortalidade infantil, resultando em um progressivo aumento populacional. Por outro lado, a divisão igualitária da herança entre todos os filhos logo reduziu a tal ponto os lotes de terra que já não permitiam o sustento das famílias, frequentemente numerosas. Somem-se a isso sucessivas quebras de safra e tem-se, entre os anos de 1820 a 1845, uma situação econômica deplorável. A migração para as cidades também não oferecia melhores perspectivas. Com uma economia majoritariamente agrária, o Hunsrück era então, e continua até hoje, uma região pouco industrializada. Simplesmente não havia como empregar tantos trabalhadores. Os artífices, isto é, aqueles que tinham um ofício, tais como carpinteiro, ferreiro e similares, muitas vezes já não conseguiam manter a sua oficina. Com melhores chances de conseguir emprego, viam-se, no entanto, obrigados a longas e exaustivas jornadas de trabalho por salários que não remuneravam suas habilidades.
Foi neste contexto que chegou o anúncio da oferta de trabalho e de terras no Brasil, que entusiasmou ... tantos outros imigrantes do Hunsrück. Ao que parece, não deram ouvidos às autoridades prussianas que alertavam para os perigos e incertezas decorrentes de uma decisão de emigrar (os prefeitos das localidades tinham a incumbência de instruir e admoestar os incautos e até de impedir a realização de seu intento). Também não hesitaram diante da dificuldade de obter a autorização e o passaporte do governo prussiano. Calcula-se que seja maior o número dos que emigraram mesmo ilegalmente ...".
(Isolde Marx - outubro de 2010 / atualizado em outubro de 2011 - http://www.familiabrand.com.br/historico.php)
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