domingo, 28 de abril de 2013


A FAMÍLIA DO COLONO ALEMÃO WEBER (1858)


José Kopke Fróes


"Fonte preciosa de informações sobre os primórdios de Petrópolis, 'O Mercantil'”, primeiro jornal de nossa terra, fundado em 3 de março de 1857, pelo lusitano Bartholomeu Pereira Sodré, nos dá notícia de tudo e de todos.

Não raro, encontramos naquele magnífico bi-semanário curiosidades dignas de serem transcritas, como a que, em homenagem à grande data petropolitana de 29 de junho, fazemos hoje, lembrando naquele trabalhador modelar a figura de muitos dos colonos que construíram nossa cidade.

De 'O Mercantil' de 9 de outubro de 1858:

“Causa verdadeiro prazer o visitar-se a colônia do Palatinato, pertencente ao alemão Weber. De quantas temos visto em Petrópolis, é esta a mais bem dirigida e a melhor aproveitada.
O terreno da colônia consta de duas porções distintas, uma plana e outra montanhosa e muito íngreme.

É naquela que o nosso alemão trabalha, fazendo as suas plantações de onde tira produtos para a sua subsistência e para a de sua família, constando de mulher e um casal de filhos.

Esta pequena planície, que orçamos em cerca de 3.000 braças quadradas, acha-se dividida em quarteirões apropriados aos diversos gêneros de cultura. Dois são para a plantação do centeio, um para a de aveia, uma boa porção para o plantio de batata e outra para a de hortaliças, flores, árvores frutíferas, etc.

As forças de que dispõe o colono são o casal de filhos para a horta e um cavalo ruço, sofrivelmente conservado, para o trabalho grande. Isto para o arroteamento e amanho das terras, feito industriosamente ao socorro de um pequeno arado, que é arrastado pelo ruço e dirigido pelo lavrador. Quer o cavalo, quer o senhor estão traquejados e provectos nesta espécie de serviços, entendem-se perfeitamente e vivem em paz e na melhor harmonia.

Há atualmente ali (1858) duas plantações de centeio, que cresce na altura de cinco palmos e acha-se todo espigado, sendo as espigas tamanhas e bem granadas como se fora na Europa. Esta espécie de cultura, pela sua novidade talvez, produz ao brasileiro uma curiosidade cheia de emoção e prazer, porque prova-lhe a riqueza da variedade do solo pátrio, - foi isto o que precisamente sentimos.

A horta está toda perfeitamente cultivada: há ali diversas qualidades de hortaliças e legumes, há uma excelente parreira, estendida em latada por uma larga rua, há flores lindas, muitos pessegueiros de qualidade, macieiras, etc ...

O terreno montanhoso é o quinhão reservado para o ruço, companheiro de trabalho do colono, e a produção de capim, para uma vaca que vive na estrebaria, por se achar presentemente em estado interessante.

A vivenda ou locanda da família é uma casa coberta de lousa de 30 palmos de largura e 60 de comprimento, dividida comodamente, e dentro da qual não falta a mobília, e onde o chefe da família tem uma excelente cama de cedro à moderna, perfeitamente acabada e envernizada para si e sua boa Eva.

Os trastes e esta cama são do trabalho de um filho marceneiro, que vive já sobre si.

Esta família vive feliz e goza saúde, está bem nutrida e vestida, vivendo ali mais feliz certamente que muitos Cresos.

Os filhos falam belamente o português, o pai muito mal e a mãe não pesca palavra.

Deus os proteja e sejam felizes para modelo entre colonos”.

(acervo de Gabril Kopke Fróes -http://earp.serraplanweb.com.br/site/earpgkf.htm)

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